27 de mar. de 2018

Como a inteligência artificial está mudando o trabalho dos consultores.

Quando lidera projetos de gestão da mudança com clientes da Accenture Strategy , braço de consultoria da empresa, a diretora executiva da área de talentos e organização, Patricia Feliciano, tem uma ajuda constante. Um algoritmo avançado que usa os dados dos clientes para gerar e testar hipóteses, recomendações e o melhor ritmo para as mudanças. Por meio de respostas coletadas com 44 perguntas feitas aos funcionários, o resultado que a máquina entrega lembra um mapa, dando notas a temas como a eficiência dos gestores, a disponibilidade de recursos e até a energia dos funcionários, que varia da determinação ao medo.

O chamado “GPS da transformação” já fez 33 bilhões de cálculos para mais de 200 empresas ao longo dos últimos 15 anos em que foi usado pela Accenture no exterior. Adotada pelas equipes do Brasil há dois anos, a plataforma tem sido usada com frequência nos projetos da empresa, diz Patricia. “Antigamente se fazia muita coisa na base do ‘achismo’, hoje a gente acredita que a tecnologia deixa nosso trabalho com muito mais precisão”, explica.

Muito associado à experiência acumulada ao longo da vida e às relações próximas com os executivos que recebem seus conselhos, o trabalho do consultor está passando pelo seu próprio processo de disrupção. Na medida em que as entregas para os clientes incluem, cada vez mais, processos de transformação digital e adoção de novas tecnologias, grandes consultorias já adotam ferramentas preditivas e inteligências artificiais para analisar dados, mudam sua forma de trabalhar para incluir o desenvolvimento de protótipos e encurtam o tempo até os resultados. Elas desenham, assim, mudanças que já marcam o perfil dos profissionais da área e que devem se tornar ainda mais acentuadas no futuro.

Na Accenture, a equipe de consultoria trabalha junto com profissionais da área de tecnologia e ciência de dados. Se antes os consultores demoravam de seis meses a um ano para entregar os resultados finais, hoje o processo de trabalho é formado por soluções mais pontuais, protótipos criados com base nas informações coletadas nos clientes que são testados, avaliados e melhorados constantemente. Para Patricia, uma das habilidades mais exigidas de consultores hoje é a capacidade de trabalhar em times multifuncionais e o conhecimento de tecnologia. “É preciso entender o que ela pode oferecer e conseguir discutir o processo à luz dela”, diz.

Na PwC, o sócio Sérgio Alexandre diz que a empresa vem usando algoritmos para fazer predições e testar hipóteses desde 2015, mas o uso tem se intensificado na medida em que as ferramentas “aprendem” com o trabalho e se tornam mais assertivas. Companhias e universidades parceiras ajudaram no desenvolvimento das tecnologias. “Tomamos a decisão de que o foco da PwC é o conhecimento do negócio”, diz Alexandre.

Os consultores têm recebido treinamentos mais amplos sobre tecnologias como inteligência artificial e blockchain, alguns em formatos de competições e jogos. Para Alexandre, a contribuição da inteligência artificial já enriqueceu o trabalho, mas não substitui a necessidade de formar equipes especialistas no negócio. “Ainda tem a questão da sensibilidade, aquele tino, que é a experiência do consultor mais sênior que entende da política do ambiente.”

Mesmo assim, o perfil dos consultores tem mudado. No ano passado, a grande maioria dos trainees que entraram para a área de consultoria tinham formação em engenharia – inclusive os quatro que foram incorporados à equipe de consultoria em recursos humanos, no passado uma área dominada por psicólogos. “O perfil das pessoas que estão entrando é mais diferente e analítico”, diz.

Na McKinsey, as equipes técnicas de áreas como engenharia de dados já somam mais de mil pessoas globalmente e 70 no Brasil, onde a empresa conta com cerca de 400 consultores. A área de consultoria de tecnologia e digital, que aconselha clientes em temas como transformação digital, foi a que mais cresceu nos últimos anos, segundo a sócia sênior do escritório de São Paulo, Marina Cigarini.

Ela diz que a tecnologia exige que as equipes sejam mais diversas, permite que elas tenham acesso a mais dados e garante ‘insights’ com mais rapidez – algoritmos são capazes de gerar milhares de hipóteses ao mesmo tempo, diz a consultora, que estima que mais de um quarto do trabalho hoje seja propiciado por ferramentas do tipo.

Há dois anos os consultores vem sendo treinados na área, com diferentes tipos de profundidade – alguns em grandes centros de ensino como o MIT. Eles recebem títulos de “tradutores” em tecnologia, para serem “capazes de navegar os dois mundos”, diz Marina. “Não se espera que o consultor programe, mas que entenda como tudo funciona. Sobretudo o gerente de projeto, que vai sentar junto com cientistas de dados e trabalhar com eles”, diz.

Um estudo global feito pela própria McKinsey estima que, em geral, 60% das funções poderão ter pelo menos 30% das suas tarefas automatizadas até 2030. Dentro da consultoria, Marina diz que as áreas dedicadas à pesquisa, que eram responsáveis pela obtenção de dados públicos de empresas e pela organização de relatórios, já foram substituídas por máquinas.

A líder de soluções cognitivas da área de consultoria da IBM, Patrícia Fusaro, explica que um grande avanço da inteligência artificial atualmente é conseguir reunir dados desestruturados no processo de obtenção de informações. Dados estruturados são aqueles que já estão organizados – por exemplo, informações preenchidas em um formulário, que podem ser tabuladas. Dados desestruturados são todos os outros, como textos corridos, imagens ou até postagens em redes sociais.

“Essa é a grande massa de informação que a gente tem à nossa disposição hoje e que é muito pouco usada pelas empresas para tirar inteligência”, diz. Na opinião de Patrícia, tarefas relacionadas à busca de dados serão eventualmente substituídas por sistemas de inteligência artificial, pois a capacidade de correlação da máquina é maior que a humana. “O que ela não vai substituir é toda a recomendação final do consultor, que é baseada no pensamento crítico e na criatividade”, afirma.

Consultor há 25 anos e sócio do grupo americano Cambridge Family Enterprise, especializado em empresas familiares, Nils Tarnow acha que, apesar da adoção de tecnologias, a consultoria continuará a ter um elemento humano forte. “O consultor de estratégia é uma pessoa de confiança, tem um relacionamento com o cliente. No trabalho com empresas familiares, você tem que entender toda a dinâmica da família”, diz Tarnow.

Na PwC, o sócio Sérgio Alexandre conta que outra mudança recente aconteceu na maneira de trabalhar. Em 2016, um andar do prédio da empresa foi transformado em um “experience center”, onde os executivos clientes trabalham com os consultores na avaliação do problema, usando ferramentas como o “design thinking”.

Uma técnica que a consultoria adota às vezes está longe de exigir tecnologias de ponta. Envolve pedir que o cliente explique seu problema em no máximo dois minutos a um grupo de crianças munidas de placas de “positivo”, “negativo” e uma repleta de pontos de interrogação. “Assim a gente tenta simplificar a mensagem e extrair o que é verdadeiramente importante para o cliente”, explica Alexandre. “Isso o dado não traz.”

Fonte: Valor Econômico, por Silvia Zamboni, 26.03.2018

Custo do trabalho cai pelo terceiro ano seguido.

A trajetória de queda do custo unitário do trabalho (CUT) da indústria, que começou há aproximadamente dois anos, deve continuar em 2018. A tendência é que um crescimento maior da produtividade do que do rendimento do trabalhador seja responsável pelo recuo do CUT. Economistas divergem, no entanto, sobre o quanto isso pode ajudar no curto prazo.

“Até o fim de 2018 o cenário para o custo unitário com certeza segue confortável”, diz Armando Castelar Pinheiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

O CUT subiu de maneira praticamente ininterrupta entre 2010 e o fim de 2015, crescendo 30% (de 100 pontos para 130, em uma escala criada pelo Ibre-FGV). O cálculo é feito dividindo a massa salarial real da indústria de transformação pela produção industrial, com base em dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Até a crise, os rendimentos cresciam acima da produtividade”, diz Castelar. Segundo ele, o mercado de trabalho aquecido no começo da década puxava os salários para cima, enquanto a produtividade permanecia estagnada, o que levou a fortes aumentos do CUT. “Quem mais se prejudicava era a indústria. Os serviços são menos expostos à competição externa, enquanto a agricultura e a mineração são competitivos por outras razões.”

Desde janeiro de 2016, essa alta do CUT vem sendo revertida, com queda de quase 15% (para 112 pontos). Esse recuo é decorrente principalmente do aumento da produtividade, que por sua vez pode ser explicado por uma combinação de fatores.

Durante a crise, por exemplo, algumas empresas optaram por manter “aquele trabalhador mais especializado” e mais produtivo, mesmo que não houvesse tanta demanda pelo trabalho dele, segundo Castelar. “Agora, com a produção subindo, esse funcionário volta a ser mais acionado.”

Segundo Renato da Fonseca, gerente-executivo de pesquisa e competitividade da CNI, houve também um efeito “comportamental” causado pela crise. “Com a recessão, as empresas e empregados se esforçam mais”, para evitar falência, recuperação judicial ou demissão. “As companhias ainda estão mais focadas em reduzir custos do que em contratar novos trabalhadores”, diz. “O emprego crescerá ao longo deste ano, mas com uma indústria melhor, mais produtiva, mais enxuta.”

A própria estagnação da produtividade durante quase uma década, segundo Castelar, também abre espaço para uma alta mais forte agora, em uma espécie de efeito de recomposição.

Custo do trabalho cai pelo terceiro ano seguido

O rendimento do trabalho é outro fator que deve ajudar a manter o custo unitário em patamares confortáveis para a indústria em prazos maiores. Ao contrário do que aconteceu no último ciclo de crescimento do Brasil, desta vez a queda do desemprego deve ser mais lenta, pressionando também de “maneira relativamente lenta” os salários, de acordo com Castelar. Ele calcula que o rendimento do trabalho terá alta em termos reais de 0,7% ao ano até 2020.

A divergência aparece quando os economistas analisam os benefícios que a queda do CUT pode trazer para a indústria. Nos cálculos do Ibre-FGV, apesar de variações bruscas ao longo dos últimos dois anos, o CUT em dólares terminou 2016 e 2017 em patamar parecido com o do fim de 2015 (veja o gráfico). Para Fonseca, da CNI, isso anulou o recuo do CUT em reais. “Não podemos nos iludir, o que o câmbio traz, ele leva”, afirma.

Já Castelar defende que a queda ajuda a indústria ao aumentar a rentabilidade e estimular o investimento, independentemente do câmbio. Na realidade brasileira atual, segundo ele, esse efeito é o mais importante do recuo. Mas, para Fonseca, tão importante quanto a variação em dólares no Brasil é a variação no exterior.

“A queda no Brasil é positiva por si só, mas, se ela foi maior nos demais países, as empresas de fora poderão reduzir seus preços mais do que as nacionais”, diz, afirmando que um recuo maior em outros países prejudica a competição tanto no exterior quanto com os importados pelo Brasil. “É igual a uma corrida. Não adianta melhorarmos o nosso tempo, temos que melhorar mais do que o dos outros competidores.”

Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), concorda que o CUT “não é um obstáculo” à recuperação no curto prazo. Mas, sem uma expansão dos investimentos, é improvável que ele não volte a subir em prazos maiores, segundo ele.

“O que me preocupa é que há tempos o Brasil é uma economia de baixo investimento”, diz. Para ele, com a manutenção dos investimentos no atual patamar, o país terá cada vez menos capacidade de compensar eventuais altas de custos, como energéticas ou logísticas. “É próprio de uma economia de mercado arrefecer pressões de custo por meio de inovações. Investimento retira gargalo. Você gera uma produtividade maior para aquele trabalhador cujo custo continua em elevação.”

Castelar também destaca a importância de avanços consistentes da produtividade. “O câmbio tem impactos relevantes a curto prazo, mas a médio prazo o que faz a diferença é a produtividade e o salário real”, afirma. “A atual queda do custo unitário é bem-vinda, mas para ganharmos competitividade externa precisamos perseverar.”

“Esse é o desafio do Brasil, investir em tecnologia e capacitação”, diz Fonseca, da CNI. “Senão ficamos à mercê do câmbio.”

Fonte: Valor Econômico, por Estevão Taiar, 26.03.2018

20 de mar. de 2018

O RH na era da tecnologia: como se atualizar para não perder espaço?

A tecnologia está cada vez mais presente no dia a dia das pessoas. O acesso à internet pelo celular democratizou o mundo digital, deixando diversos tipos de informação na palma da mão e isso tem impactado tanto a vida pessoal quanto profissional dos brasileiros.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em dezembro de 2016 o uso do telefone celular se consolidou como o principal meio de acesso à internet no Brasil, chegando a 92% dos lares brasileiros.

Uma vez que sete em cada dez brasileiros possuem um dispositivo mobile, podemos concluir que o ambiente organizacional foi significativamente afetado por essa nova realidade, fato que não pode mais ser ignorado pela área de Recursos Humanos.

Enquanto o RH tradicional ainda está fundamentado em ciclos anuais, comunicação impessoal e unilateral, o colaborador vivencia na sua vida privada experiências estimulantes e atrativas, customizadas a partir de seus próprios interesses e históricos de buscas. A comparação é inevitável!

As novas tecnologias estão permeando rapidamente os processos internos da companhia e mudando nossa forma de recrutar, treinar, comunicar, engajar e motivar os colaboradores nas organizações. Essa nova vida digital está forçando os profissionais a repensarem a forma de interagir e de propiciar experiências aos seus colaboradores.

Com a crescente melhora da experiência virtual, os colaboradores estão esperando uma experiência de trabalho tão atrativa e engajadora quanto em outros segmentos. É quase um caminho inevitável para RH experimentar novas tecnologias que propiciem feedback em tempo real, apps que facilitem e popularizem seus programas, meios de comunicação mais modernos, instantâneos e produtivos, ferramentas que facilitem e melhorem a experiência dos colaboradores.

Diante de todo este cenário, fica evidente que analisar as informações da sua força de trabalho passa a ser um ator crítico de sucesso no mundo digital. Para isso, as companhias hoje em dia têm à sua disposição soluções de Big Data Analytics para coletar dados de forma estruturada, afim de analisá-los de maneira preditiva, influenciando a tomada de decisão de forma consciente e segura.

Sabendo utilizar ferramentas de análises, a rotina corporativa tende a mudar e é importante que mude! Com a exigência de tomadas de decisões rápidas às questões que surgem diariamente nas companhias, estes dados – se olhados de maneira efetiva – podem embasar as decisões e possibilitar que ações sejam realizadas de maneira estratégica.

Os setores de RH das companhias precisam tomar decisões que impactam diversas ações internas. Por isso, ter nas mãos a segurança de tomadas de decisões mais assertivas e menos intuitivas é um importante ganho e que precisamos colocar em prática.

Nos últimos anos, pudemos ver como o varejo, as vendas, os serviços, a educação e o transporte foram transformados pela tecnologia e pela digitalização da experiência do cliente. Agora é a vez dos departamentos de Recursos Humanos.

(*) Mariane Guerra é vice-presidente de Recursos Humanos da ADP.

Fonte: Start-se, por Mariane Guerra (*), 20.03.2018